Camaleões do Marajó - Seu Brito
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Raimundo Brito é o proprietário de
uma das mais belas e conhecidas fazendas da Ilha de Marajó, no Estado do Pará.
Localizada na cidadezinha de Soure, a Fazenda São Jerônimo vive das atividades
dos coqueirais e do ecoturismo, aproveitando racionalmente sua privilegiada
natureza: uma praia deserta, quilômetros de mata fechada, centenas de animais,
alguns até em extinção, igarapés e mangues.
Seu Brito, como é carinhosamente
chamado por todos, desenvolve um importante trabalho de conservação da fauna
local, em especial com os camaleões, como são popularmente conhecidas as
iguanas que habitam a região.
Porque
camaleões
“O trabalho começou há três anos,
porque observamos que os camaleões estavam praticamente em extinção em nossa
região, devido à sua fama de ter uma carne muito saborosa (cozida na panela). O camaleão é um animal
muito importante na cadeia alimentar dos animais silvestres. Os ovos e filhotes
alimentam tatus, gatos maracajás, quatis e raposas, entre outros animais da
região".
Como o trabalho foi desenvolvido
"Depois que observamos
que estes animais estavam em extinção, mapeamos as covas das camaleoas que
ainda restavam e depois acompanhamos o desenvolvimento desses ovos até um mês
após a postura (período em que acreditamos que estes ovos já estejam fora de
perigo).
A primeira vez
acompanhamos 20 covas de camaleoas (cada cova de camaleoa adulta tem cerca de
42 ovos e de camaleoa jovem 18 ovos). No segundo ano acompanhamos 50 covas e em
2003 conseguimos acompanhar 70 covas. Apesar de todos os esforços, ainda há
áreas em que o camaleão tradicionalmente habitava, mas hoje não há um ovo
sequer."
Resultados
"Hoje temos 70 covas
mapeadas em duas localidades, nossa meta é atingirmos pelo menos cinco pontos
de desovas, onde poderíamos acompanhar cerca de 200 covas de camaleoas. Já
iniciamos também estudo para desenvolver este trabalho com outros animais como,
por exemplo, o macaco guariba, dois quais, há dois anos, tínhamos apenas um grupo na
Fazenda e hoje já temos três. Além dele, queremos acompanhar também o gato
maracajá, a preguiça, a cobra sucuri e a cutia.
Todos os animais acima
são apreciados pelos nativos pelo sabor de sua carne (menos a sucuri) e, tendo
em vista o desequilíbro social em que o nosso país se encontra, há uma grande
dificuldade em manter este trabalho.
Hoje, empregamos um
colaborador direto na vigilância destes animais e mais três funcionários dando
suporte quando necessário. Temos a ajuda do Ibama Belém e local, porém eles
também têm muita dificuldade, estamos procurando parceiros para nos ajudar
nesse trabalho, onde necessitamos de mais mão de obra para o acompanhamento dos
animais, mais apoio técnico e ajuda no mapeamento das áreas."
Turismo Responsável
"Considerando que nosso
principal público é o turista ecológico, este ano já tivemos trilhas para
mostrar a desova da camaleoa. Com isso, além de termos um atrativo a mais para
os nossos visitantes, também conseguimos dar emprego à comunidade local e
realizar um importante trabalho de conservação. O mesmo nativo que antes
apanhava os ovos e a camaleoa, hoje está vigiando e tomando conta das covas.
Há dois anos, inclusive,
pegamos um nativo caçando animais silvestres em nossa propriedade, ele foi
atuado e fichado na polícia local. Há cerca de um ano abrimos vagas para
condutores locais e contratamos essa mesma pessoa, que hoje é o nosso melhor
guia para mostrar animais para o turista, ou seja, ele está usando a habilidade
que por anos utilizou para matar animais, agora para conservá-los, propiciando
mais emoção ao turista e garantindo uma fonte de renda.
A maior contribuição
para a população, acreditamos ser na conscientização da mesma, pois conservando
este animal estamos mantendo o equilíbrio ecológico e fixando outros animais
que também correm perigo de sumir da nossa região como, por exemplo, o gato
maracajá. Além disso, tentamos mostrar que o camaleão e outros animais caçados
podem trazer mais dinheiro para a população vivos (atraindo turistas) do que
cozidos na panela."
Texto de Equipe EcoViagem. Foto de Marcello Maestrelli (Vida de Viajante). Publicado em 16 de Março de 2004 no site EcoViagem).
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