Ela virou notícia
Soure é onde se aprende a fazer a Moqueca de Filhote
O Globo Rural foi à Ilha de Marajó, no Pará, para
saber como é preparada uma moqueca de filhote, um peixe amazônico, cozido no
leite da búfala. E conhecer também o turu, um molusco muito apreciado pela
região. Esta é a última reportagem da série sobre a culinária paraense.
Com cerca de 50 mil quilômetros quadrados, a Ilha
de Marajó tem tamanho de Estado. É uma área equivalente, por exemplo, ao Rio de
Janeiro.
A ilha fica na foz do Rio Amazonas e encanta pela
diversidade. Praias, lagos, igarapés, florestas dão vida a um sem número de
espécies animais, como o guará, uma das mais belas aves do Brasil e símbolo do
Marajó. Esse santuário ecológico preserva suas tradições na cerâmica marajoara;
em danças, como o carimbó; e na culinária.
A equipe de reportagem chegou pela Baía de Marajó,
no lado leste da ilha, com chuva. Pancadas rápidas e passageiras fazem parte do
cotidiano. O destino é Soure, uma das principais cidades da ilha. Com pouco
mais de 21 mil habitantes, Soure é conhecida como a "pérola
marajoara" ou "capital do búfalo", e atrai turistas do mundo
todo.
No lugar fica a sede da Fazenda São Jerônimo, um hotel
fazenda. Quem recebe a equipe e o proprietário, Raimundo Brito, o Seu Brito,
marajoara legítimo, como gosta de dizer.
“O búfalo se adaptou bem ao Marajó porque é uma
região pantanosa. Atualmente o búfalo serve para praticamente tudo”, disse seu
Brito. Na Ilha do Marajó tem mais búfalo do que gente. São
270 mil cabeças. É o maior rebanho do país.
A Dona Jerônima é esposa do Seu Brito. Chefiando a
cozinha da Fazenda, acabou se tornando referência em culinária marajoara. Ela
desenvolveu uma série de receitas com ingredientes típicos, a mais famosa
delas, premiada em festivais de gastronomia, é uma moqueca nada tradicional. “É
moqueca de filhote no leite de búfala”, disse.
O filhote é, na verdade, a piraíba, peixe de couro
que vive nas bacias amazônica e Araguaia-Tocantins. Ele é enorme, chega a dois
metros de comprimento e 300 quilos. A carne é rígida, fibrosa, só apreciada
quando o peixe ainda é jovem e tem no máximo 60 quilos. Daí o apelido:
"filhote".
Para um quilo de filé de filhote temperado com
limão e sal, a Dona Jerônima usa:
Tomate picado e cebola picada - 3 colheres de sopa cada um
1 pimentão picado
2 colheres de sopa de pimenta cheirosa
2 colheres de sopa de cheiro verde
2 colheres de sopa de urucum
1 colher de chá de alho picado
5 colheres de sopa de azeite de oliva
1 ½ litro de leite de búfala
cebola, tomate e pimentão em rodelas para enfeitar o prato
sal a gosto
1 pimentão picado
2 colheres de sopa de pimenta cheirosa
2 colheres de sopa de cheiro verde
2 colheres de sopa de urucum
1 colher de chá de alho picado
5 colheres de sopa de azeite de oliva
1 ½ litro de leite de búfala
cebola, tomate e pimentão em rodelas para enfeitar o prato
sal a gosto
A Dona Jerônima divide os ingredientes em três
partes para fazer a moqueca em camadas. Ela coloca um terço da cebola, do
peixe, da pimenta cheirosa, do tomate, do pimentão, do cheiro-verde e do leite.
E repete tudo mais duas vezes. Depois, coloca o alho cru. A Dona Jerônima deixa
ferver um pouco e ainda acrescenta a cebola, o tomate e o pimentão em rodelas
para enfeitar.
A moqueca ainda descansa na panela de pedra por
cerca de dez minutos, fora do fogo. Enquanto a moqueca fica no ponto, a Dona
Jerônima costuma servir uma sopinha de turu com tucupi de entrada.
Para conhecer o turu é preciso entrar no mangue.
Além do Seu Brito, vai o Hamilton de Souza, um turuzeiro experiente e um
funcionário da Fazenda. O mangue é fechado. Uma ponte de bambu improvisada
ajuda no deslocamento. Eles buscaram troncos de mangueiro, árvore de grande
porte muito comum na região.
Assim como a ostra ou o marisco, o turu é um
molusco. Com seu corpo alongado e cilíndrico, lembra uma lombriga. É da família
dos teredinídeos e ocorre em ambiente de água salobra, em manguezal.
Com seus dois dentões, o turu se alimenta da
madeira e pode chegar a um metro de comprimento. É importante para decompor a
matéria orgânica do mangue, mas pode ser um terror para embarcações.
Os turus seriam, até, os responsáveis pelo
naufrágio da Caravela Vizcaina, que integrava a frota da quarta e última viagem
de Cristóvão Colombo à América.
No Marajó, tornou-se alimento importante para os ribeirinhos.
No Marajó, tornou-se alimento importante para os ribeirinhos.
O Hamilton explicou que há muitas formas de
saborear o turu, com limão, no tucupi, no sumo do coco. O jeito bom de comer é
tirar do mangueiro e comer. Com um pauzinho o Hamilton fura a barriga do turu e
limpa. Joga uma água e come.
Video original por Adriano Cação. Texto transcrito pelo site
Ilha do Marajó - Turismo na Ilha do Marajó.
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