Sempre aprendendo
What about turu,
Jerônima?
Chef irlandês e
cozinheira marajoara trocam figurinhas
Antes de sair da Ilha
de Marajó para mostrar sua cozinha típica no Laboratório Paladar, D. Jerônima
Barbosa foi avisada de que ali iria conhecer pessoas de todos os cantos do
mundo. Mesmo precavida, não esperava se deparar no elevador do hotel com um
gringo branquelo que exclamava, em sua direção: 'Congratulations!' Seu mais
novo fã era o irlandês Kevin Thornton, chef do Thornton's, que figura na lista
dos 50 melhores do mundo de acordo com a revista Restaurant. No dia anterior,
tinha experimentado a comida de Jerônima na aula. Não entendeu as explicações
em português, mas a comida, sim.
Como Jerônima não sabe
inglês, os elogios lhe pareceram resmungos indecifráveis. Foi preciso um novo
reencontro, dessa vez com tradução simultânea do Paladar, para que os dois
conversassem. Thornton não rodeou. Caneta em punho à espera de respostas
objetivas, perguntou a Jerônima onde poderia encontrar na Amazônia cogumelos
alucinógenos de qualidade ('good hallucinogenic mushroons'). Os olhos da
senhora de 69 anos se esbugalharam e, receosa, deixou claro que não entendia
'dessas coisas'.
Mudando de assunto,
Jerônima quis saber por que o pessoal da terra de Thornton é tão fascinado por
batata e como era a cozinha dele. Com a mesma caneta dos cogumelos, o chef
desenhou um de seus pratos: uma base de vegetal servindo de suporte a uma
vieira, caviar e uma folha de ouro. 'Ouro?! Que coisa chique', comentou
Jerônima.
Por mais que búfalo de
Marajó não se assemelhe a cerveja Guinness, ambos aprenderam a cozinhar
observando as mães no fogão. Jerônima esqueceu o susto inicial. Arriscou um
'thank you', mas Thornton não entendeu como despedida. Queria mais papo. 'A
senhora pode me falar do turu?', perguntou, interessado no molusco da Amazônia,
servido por ela na aula, que, mesmo sem efeitos adicionais, o impressionou
muito.
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